Plantas, chás, alimentos milagrosos e misturas caseiras. Nas redes sociais partilham-se várias mezinhas que prometem curar ou atenuar sintomas de várias doenças. Desta vez, a amêndoa é a protagonista de uma dessas publicações. Num post no Instagram alega-se que, em caso de dores de cabeça, “comer 15 amêndoas equivale a tomar uma aspirina”.

Segundo o autor da publicação, este suposto efeito deve-se à “salicina” e ao “magnésio” presentes nas amêndoas “que são anti-inflamatórios e relaxam os vasos sanguíneos”. Mas existe evidência científica de que comer 15 amêndoas é tão eficaz a tratar uma dor de cabeça como tomar uma aspirina?

Comer 15 amêndoas é tão eficaz quanto tomar uma aspirina?

Em declarações ao Viral, Rui Araújo, neurologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa Neurologia (SPN), adianta que “não existem estudos formais para o tratamento de dores de cabeça utilizando amêndoas”.

O neurologista começa por explicar que “a salicilina está muito aproximada, do ponto de vista molecular, do ácido acetilsalicílico”, ou seja, da aspirina. E é verdade que “a aspirina é utilizada em contexto de dor, pelo potencial anti-inflamatório”, aponta o médico.

Noutro plano, refere, apesar de o magnésio “não ser algo que se utilize em primeira linha em termos de tratamento de dores de cabeça, pode ser utilizado, sobretudo, em contexto de enxaquecas muito peculiares”.

No entanto, conclui, não havendo estudos sobre a quantidade de salicilina e magnésio presente nas amêndoas, não se sabe se existe alguma quantidade deste alimento que tenha efeito nas dores de cabeça.

Assim sendo, reforça o especialista, “não está minimamente indicado que as pessoas comam amêndoas” para este efeito.

“Não é melhor a pessoa comer 15 amêndoas do que tomar uma aspirina, se tiver uma dor de cabeça”, reitera.

Aliás, “se uma dor de cabeça for forte o suficiente, provavelmente vai ser preciso alguma medicação, e ninguém poderá recomendar amêndoas com base em evidência científica disponível”, reforça.

“A aspirina não é primeira linha em termos de tratamento de dores de cabeça”

Ao contrário do que é sugerido na publicação, “nem o ácido acetilsalicílico (substância ativa da aspirina), nem o magnésio, são, de facto, as primeiras linhas em termos de tratamento de dores de cabeça”, salienta o neurologista. Isto é, a aspirina não é a escolha mais indicada para tratar uma dor de cabeça numa fase inicial. 

Segundo o médico, “o paracetamol” é um exemplo de um fármaco mais utilizado neste contexto e com menos efeitos adversos.

O neurologista explica que “a aspirina não tem só efeitos anti-inflamatórios”, sendo utilizada, muitas vezes, “após um AVC”, pela sua “capacidade de interferir na ação das plaquetas e impedir tromboses”.

Nesse sentido, apesar do paracetamol “ter os seus problemas, nomeadamente no que toca ao fígado”, regra geral, “não tem tantas interações ou tantos efeitos para o estômago como a aspirina”, esclarece.

Rui Araújo avança ainda que existem algumas medidas que auxiliam na prevenção de dores de cabeça. “O exercício físico, uma alimentação adequada e padrões de sono normais, bons e prolongados” são boas precauções “para evitar que as pessoas tenham muitas crises”.

Quando ir ao médico?

Rui Araújo alerta que “qualquer dor de cabeça mantida no tempo ou que seja muito intensa deve ser vista por um médico de família ou por um neurologista – se a pessoa achar que deve procurar ajuda mais especializada”.

Além disso, existem outros “sinais de alarme” que podem indicar gravidade. Segundo o médico, alguns deles são: “náuseas e vómitos”; “acordar durante a noite com uma dor de cabeça muito violenta”; e “a dor não passar com medidas sintomáticas simples como um anti-inflamatório”.

Outros sinais preocupantes são “começar a ver mal ou a dobrar”, “ficar com menos força num braço ou numa perna” ou a “dor de cabeça agravar muito na posição de deitado ou ao tossir”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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